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A cerâmica Saramenha começou a ser produzida oficialmente no século XIX, na chácara Saramenha, a 3 Km de Ouro Preto em Minas Gerais.
Era bárbara, grosseira, vidrada e muito conhecida entre os viajantes; os mais ilustres foram Sanint-Hilaire e Richard Burton. Ambos registraram em seus diários as peculiaridades de um artefato que só seria valorizado mais de um século depois, por conta de estudiosos e colecionadores, como o marchand paulista Paulo Vasconcelos. Em 1963, Paulo deparou com um prato de barbeiro- espécie de bacia, com parte da borda recuada para o centro da peça — num antiquário carioca. Logo associou as características da peça aos depoimentos de Saint-Hilaire e às informações veiculadas oralmente por habitantes das áreas rurais de Ouro Preto, Cachoeira do Carmo Sabará, Santa Luzia, Mariana, Caetés, Barão de Cocais e Santa Bárbara.
Localizada a origem mineira do objeto, o colecionador iniciou a etapa de pesquisa e coleta. Conseguiu recolher castiçais, bilhas, paliteiros, saleiros, fôrmas refratárias, candeias e urinóis. Num bar de beira de estrada, chegou a encontrar duas canecas em pleno uso. Cinco anos depois de se entregar a essa aventura investigativa, Paulo tornou-se capaz de reconhecer em qualquer fragmento o exemplar saramenha, passando a colaborar com os técnicos do Patrimônio Histórico e Artístico na separação de material. Até então, historiadores e arqueólogos ficavam aturdidos com a “estranha cerâmica” que encontravam nas escavações ou pesquisas de campo feitas na região próxima a ouro Preto. Ela possuía cores que variavam entre o amarelo-ouro e o avermelhado, sendo decorada com desenhos ingênuos e recoberta com uma camada leve de verniz. Mas seu traço mais marcante é o vitrificado, obtido à custa de óxido de ferro e pedra moída derretidos em panelas de ferro adaptadas aos rústicos fornos da época. Notadamente, a sua concepção tem influência portuguesa, mas não só. Algumas vezes os utensílios tomam formas nitidamente chinesas, lembrando sagradas vasilhas de chá. Em outras, as formas remetem a produções mexicanas, configurando jarras ou bilhas com três saídas de água. Antoniette Fay, pesquisadora do Museu Nacional de Cerâmica, em Sèvres, ressaltou a semelhança de estilo com a louça antiga e do mesmo gênero da região francesa de Bouvais.
Apesar de projetada internacionalmente, depois de ser exibida nos anos 70 na exposição Internacional de Bruxelas, a cerâmica saramenha agoniza. Sabe-se que ela foi produzida até o final do século XIX, mas não há registro oficial de sua continuidade nos dias atuais. A não ser de forma esporádica, graças a algum descendente das antigas famílias de oleiros. Recentemente, o pesquisador mineiro Pedro Arcângelo Evangelista, conhecido como Petrus, conseguiu chegar a um artesão que parece ser o último depositário da técnica de queima e vitrificação com sal grosso. Com isso, renascem as esperanças de que essa manufatura, legitimamente nacional, possa recuperar o vigor e perdurar por muitos séculos ainda.
Comprimento/Largura: 21cm
Altura: 20cm